“Não há necessidade de consultar um psicólogo para saber
que quando você denigre o outro é porque você mesmo não consegue crescer e
precisa que o outro seja rebaixado para você se sentir alguém.”
(Papa
Francisco)
“Ignorância e arrogância são duas irmãs inseparáveis, com
um só corpo e alma.”
(Giordano Bruno)
O patrulhamento ideológico não é fácil. Em época de eleição, é só o que se vê. Alguém me enviou
uma matéria de Ricardo Mota com o título “A eleição pôs luz sobre um Brasil
obscuro”, onde o escritor fala sobre a nossa intolerância cotidiana, que veio à
tona nas eleições presidenciais, especialmente no segundo turno. Preconceito,
racismo, falta de solidariedade, tudo isto preponderou.
Ora, a baixaria já vem como exemplo dos próprios
candidatos. Diz o autor: “A disputa presidencial serviu para suprir o profundo
vazio que os tempos nos impõem. O ódio, como sói acontecer, uniu mais do que a
solidariedade – o que está longe de ser uma manifestação social saudável.” E,
mais adiante, continua: “O que vimos por esses dias de segundo turno,
principalmente, foi a replicação do nosso comportamento nas coisas mais banais
do dia a dia: no trânsito, no ambiente de trabalho, no supermercado e até na
família.”
Recentemente, num evento familiar, na véspera da eleição,
encontrei dificuldades em evitar assuntos políticos, tal a insistência de
alguns convidados. E ainda tive de escutar acusações (ditas de forma brincalhona, é claro), por me posicionar diferentemente de uma parte dos meus familiares.
Isto chama-se arrogância, falta de humildade. Isto é o mesmo que dizer: “estamos
certos e você, errada”.
No Facebook, desfiz uma ou duas “amizades”. Não porque as
pessoas externaram pensamento diferente do meu, longe disso. Desfiz porque não
suporto amizade onde me sinto invadida, onde sinto que minhas ideias não foram
respeitadas da mesma forma que procuro respeitar as opiniões alheias. Há várias maneiras de discordar do outro. Discordar escutando os motivos alheios é saudável e elegante. Mas o que ainda predomina é a discordância invasiva, grosseira, indelicada. É esta discordância invasiva que cria divisões e preconceito.
Por aí se vê como estamos longe de estabelecer relações
civilizadas. Não fizemos o dever de casa mais primário, que é o de podar nosso ego,
a arrogância nossa de cada dia.
O texto de Mota termina assim: “O Brasil já avançou
muito, não o suficiente para fazer da verdadeira cordialidade e do respeito
entre os que habitam um território espetacularmente belo e diverso o
comportamento dominante, que forja uma grande nação. Civilidade não se compra
no shopping da esquina. Não por acaso, uma rima fácil para felicidade. E como
cantou Tom Jobim, em Wave: ‘É impossível ser feliz sozinho’.”